Mais uma anomalia ligada ao Zika vírus preocupa os médicos. Um grupo de pesquisadores identificou que crianças diagnosticadas com microcefalia apresentam problemas na retina e no nervo óptico. Segundo o programa Bem Estar, da TV Globo, os especialistas alertam que as anomalias podem não se limitar apenas às crianças com microcefalia, mas também todos os bebês cujas mães podem ter tido contato com o vírus.
Os especialistas também defendem a necessidade de se fazer exames específicos, já que o teste do olhinho - exame feito em recém-nascidos - não ajuda no diagnóstico dessas alterações. "É preciso fazer um exame chamado oftalmoscopia com a pupila dilatada para observar se há lesões na retina e no nervo óptico. O teste do olhinho detecta outros tipos de alteração", diz o oftalmologista Rubens Belfort Jr., professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) que está liderando os estudos.
Novo problema: As alterações na retina são uma novidade segundo a oftalmologista Camila Ventura, da Fundação Alrtino Ventura. "As alterações de retina não têm nada a ver com a microcefalia. São cicatrizes por alguma agressão. Temos a teoria de que elas são provocadas pelo vírus", diz. Até então, as alterações do nervo óptico já eram observadas em casos de microcefalia por outras causas infecciosas - como toxoplasmose e citomegalovírus. Camila e outros médicos acompanham um grande número de crianças afetadas pelo problema em Recife.
O objetivo é repetir os exames a cada três meses para avaliar o desenvolvimento visual dessas crianças. "A gente não sabe se essas lesões vão progredir. Elas podem ter como consequência desde uma visão subnormal até uma cegueira", explica. Ainda de acordo com Camila, os problemas também estão aparecendo nas crianças que não têm diagnóstico positivo para microcefalia. Para Belfort, dados iniciais apontam que ao menos de 30% a 40% dos bebês microcéfalos podem ter problemas oftalmológicos.
Dificuldade: Ainda há falta de estrutura adequada para examinar e acompanhar a evolução do quadro ocular das crianças. No Nordeste, por exemplo, somente a Fundação Altino Ventura, no Recife, tem o equipamento RetCam - que faz imagens de alta resolução do fundo do olho. Para Belfort, o ideal seria ter pelo menos 20 equipamentos para atender a região. Ele ainda acredita que há uma necessidade urgente de se desenvolver aparelhos mais baratos capazes de examinar o fundo de olho com precisão, como smartphones adaptados. "Na reunião, tivemos oftalmologistas de vários estados com experiência de vários pacientes com microcefalia e alterações oculares.
O interessante é que essas alterações que descrevemos em Recife e Salvador são exatamente aquelas encontradas em outros estados, mostrando uma grande disseminação da doença em todas as regiões", diz Belfort. Em fevereiro, oftalmologistas de todo o país se reuniram em São Paulo para discutir problemas na Unifesp. "O mais importante foi o consenso a que chegamos de que é preciso alertar os pediatras que todo bebê com mães que tiveram zika ou um caso suspeito deve fazer exames oftalmológicos ainda no berçário", concluiu.
Correio
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