sábado, 7 de novembro de 2015

Seca atinge 1,8 milhão de baianos em 143 municípios.

Em seis meses, os 22.528 moradores do maior município da Bahia em extensão territorial sentiram o cheiro da chuva pela primeira vez na semana passada. Mas a ajuda do céu para Formosa do Rio Preto, no Extremo-Oeste da Bahia, não conseguiu melhorar em nada a situação da cidade diante da seca. A cidade entra na lista dos municípios em situação de emergência por conta da estiagem desde 2012. Este ano, ocupa uma posição incômoda: é o único município baiano onde 100% da população atingida. 


Assim como os moradores de Formosa, os habitantes de outros 142 municípios da Bahia aguardam ansiosamente pelo mesmo tipo de ajuda. Mas a chuva, segundo especialistas, só deve chegar em meados de novembro. De acordo com levantamento feito pela Superintendência de Proteção e Defesa Civil da Bahia (Sudec), 147 municípios haviam decretado situação de emergência por conta da estiagem da Bahia até o último dia 5 de novembro. 

Destes, 143 já tinham seus decretos homologados pelo estado e outros 118 já tiveram suas situações reconhecidas pelo governo federal. Ou seja: um terço dos 417 municípios baianos pediram ajuda ao estado e ao governo federal por conta da seca. Isso significa que mais de 1,8 milhão de pessoas sofrem com a falta d’água na Bahia neste momento. É o mesmo número de pessoas que foi atingida pela estiagem ao longo de todo o ano de 2014. Enquanto a chuva não vem, os gestores públicos tentam socorrer a população com carros-pipa, poços artesianos e maquinário como bombas, motores a diesel, filtros de pressão e tubos de PVC. A presidente da União dos Municípios da Bahia (UPB), Maria Quitéria Mendes, diz que o momento é preocupante. Na última semana, a UPB conversou diretamente com a presidente Dilma Rousseff (PT) e fez um apelo para que o Ministério da Integração Nacional (MI) mantenha os recursos para socorrer os municípios na seca. 

O Sudec informou que recebeu um apoio de R$ 15 milhões do governo federal para abertura de 100 poços artesianos no estado. “A gente está começando um período preocupante de estiagem, porque os municípios que vinham saindo da situação de seca ainda não estão bem. Eles passaram por uma seca sem precedentes, que foi a de 2012 e 2013 e muitos já entraram nessa situação de novo. Com certeza, a gente vai ter mais municípios em situação de emergência do que esses”, disse Maria Quitéria. Chama a atenção este ano a seca em municípios da região de Vitória da Conquista, onde há, tradicionalmente, um bom volume de chuvas.

Êxodo - Quem não consegue sobreviver nem com essa ajuda, acaba deixando a zona rural – maior região atingida em todos os municípios. De acordo com o diretor de Assistência Rural e coordenador de Defesa Civil de Formosa do Rio Preto, Jorge Aurélio Macedo, os agricultores familiares que vivem na região de vale do município vêm deixando suas terras e partindo em direção à sede do município. “O município abastece as comunidades rurais com água de carro pipa. A gente recebe apoio do governo federal com cinco carros e o município chega a alugar até 15, um cargo de até R$ 150 mil mensais. Temos 56 poços artesianos abastecendo o povo e a gente não consegue manter os produtores com seus animais. Além da falta de comida, tem a falta de água”, aponta Macedo. No município de Mirante, no Centro-Sul da Bahia, a seca já atinge 80% da população. Lá, segundo o secretário de Agricultura e Meio Ambiente e coordenador da Defesa Civil, Yuri Magalhães, os moradores também começam a deixar suas casas na zona rural. “Nós temos aqui 10 mil habitantes e 80% da população mora na zona rural. Praticamente 100% da zona rural está na seca”, explica.
Sobradinho - Responsável por abastecer mais de 58% da região Nordeste, o reservatório do Sobradinho enfrenta, este ano, um problema que não existia em 2012, quando o Nordeste viveu a pior seca em 30 anos. 

O volume útil do reservatório atingiu a marca de 3,66% da capacidade total. “A seca de 2012 foi mais grave do que o que nós vivemos agora, mas nós já caminhamos para uma situação mais complicada. Este ano, nós também vivemos uma coisa que não existiu em 2012 e 2013, que foi a situação do volume do Sobradinho, do Rio São Francisco, que está muito baixo”, disse o superintendente da Sudec, Rodrigo Hita. “A preocupação é que 75% do estado é o semiárido, que é a região que está sendo mais atingida”, completou. 

Para o diretor de Revitalização de Bacias Hidrográficas da Secretaria Estadual de Infraestrutura Hídrica e Saneamento (Sihs), José Olímpio, outros municípios, além dos 143 que já estão em situação de emergência, entraram nesta lista. “A situação da região do Rio São Francisco, principalmente os municípios que ficam na margem direita do rio, é muito crítica”, disse. Ainda de acordo com José Olímpio, o recuo das águas do Lago do Sobradinho vem prejudicando as comunidades ribeirinhas, que ainda devem conviver com o problema até o final do ano, quando a fluência das águas conseguirá repor o nível do reservatório. Dos municípios que ficam à margem do Lago do Sobradinho, 14 já decretaram situação de emergência por conta da estiagem: Barra, Bom Jesus da Lapa, Carinhanha, Casa Nova, Curaçá, Juazeiro, Paratinga, Pilão Arcado, Remanso, Sento Sé, Serra do Ramalho, Sítio do Mato, Sobradinho e Xique-Xique. Eles somam uma população atingida de 263 mil pessoas. 

Correio

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